terça-feira, 3 de março de 2009

Recordações de infância

Hoje, enquanto procurava um texto para os meus alunos de PCA, descobri este excerto da história da "GalinhaVerde"... Então recordei-me de quando era eu quem anadava na escola a aprender... É verdade! Estava na 4ªclasse.Nós lemos este texto na aula e gostámos tanto, que no final do ano, na nossa festa de despedida, encenamos esta peça com a ajuda da nossa professora Gina...



A Galinha Verde



A Galinha Verde abriu a porta, e ao ver o Galo Vaidoso, levou a ponta da asa ao coração, cheia de susto. Mandou entrar o polícia, a Galinha Amarela, engomadeira de seu ofício, e a galinha gorda, que se deixou cair numa cadeira, esbodegada e de bico aberto.
– Que desejam? – perguntou.
– Estas senhoras dizem que a menina…
– Senhora! – emendou a Galinha Verde.
– … Que a senhora tem doença ou bruxedo.
– Eu? Estou cheia de saúde. E quanto ao bruxedo, diga-me uma coisa, senhor guarda: Andou na escola? Se andou, sabe muito bem que não há bruxas e que só acreditam em bruxedos as galinhas ignorantes.
– Então por que tem as penas verdes? – gritou a Galinha Amarela, engomadeira de seu ofício.
– Ouça lá – perguntou a Galinha Verde, toda nervosa – eu alguma vez me meti consigo, por ser amarela; ali com a gorda, por ser preta. Ou com qualquer outra raça de galinha, branca, cinzenta, pedrês, às riscas ou aos quadradinhos? Sou verde, e depois? Nem por isso deixei de casar com o meu defunto Leghorn que o forno haja, e de ter cinco pintainhos amarelos, que são cinco amores. Sou uma galinha de trabalho, tenho a capoeira e a consciência muito limpas, e não passa um dia que não ponha o meu ovo a preceito. Não devo um bago de milho a ninguém. E faço tudo isto sozinha, sem a asa amiga de um galo para me ajudar… – E a Galinha Verde limpou uma lágrima à ponta da asa. – Há alguma lei que proíba uma galinha de ser verde? – continuou ela.
– Na realidade, não há – respondeu o Galo Vaidoso.
– Ora vão para as vossas capoeiras – cacarejou, fora de si, a Galinha Verde – que não devem estar muito arrumadas, visto que perdem o tempo a meter o bico na vida alheia, em vez de tratarem da sua, e deixem-me ser verde à minha vontade. E agora, rua! – E apontou-
–lhes a porta com a asa.
– Prenda-a, senhor guarda! Está a insultar-nos! – gritou a Galinha Amarela, mais amarela de raiva.
– Não posso prender um galináceo, só porque é verde – respondeu o Galo Vaidoso. – Por mim, não desgosto da cor. Acho… original, fora do vulgar…
Ricardo Alberty, A Galinha Verde, Ática

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